Pérolas de Sabedoria

domingo, dezembro 26, 2010

VIVENDO E APRENDENDO

Fala pouco, nunca alto, fala devagar e com cuidado, fala menos do teu coração do que gostarias porque nunca sabes se tu, ou ele, te mentem. Mantém serenas as tuas palavras e nunca murmures o que queres dizer. Mostra o que vales com o que dizes, sem nunca te comprometeres.
Sê frio e fugido, sê quem sonhas e quem desejas, mas guarda os teus segredos na gaveta. Fala pouco, nunca de ti, do teu passado e dos teus medos. Fala dos sonhos e dos desejos, mas cala os mais ousados e perfeitos.
Não partilhes lágrimas nem tristezas, são coisas só tuas que assustam os outros. Nunca mostres medo de perder, nunca lhe digas o quanto a queres. Usa a sensatez como escudo, guarda a tristeza numa caixa.
Não abuses da sinceridade nem te escondas na verdade. Segue sempre o teu caminho e não olhes para trás. Quem hesita cansa-se mais e esquece os seus objectivos. Sê duro com os outros na medida em que eles são duros contigo. E se sentires por perto a faca de uma traição, ataca primeiro o outro coração.
Nunca tenhas medo dos outros, mas lembra-te que eles podem ter medo de ti. Tenta ouvi-los quando não falam, deixa-lhes espaço para respirar. Não queiras tudo de uma vez, não peças o que não te podem dar. Mostra calma e segurança. Aprende a ficar quieto quando o mundo pede que te movas. Aprende a calar se queres que se calem. Aprende a ouvir nos gestos quem te quer bem quando te abraça e quem te quer mal quando te beija.
Ouve a voz do teu coração, mas não deixes mais ninguém a ouvir. Trata de ti como uma jóia e da tua alma como o teu coração. Nunca te esqueças de arrumar as gavetas da memória antes de deixar entrar alguém na tua vida.
Lembra-te que o orgulho tem mais força que lágrimas e suspiros. Guarda as dores dentro do peito, ou então, transforma-as em sorrisos. Sê sensato e delicado, tranquilo e generoso. Sê discreto e calado.
Caminha como quem desliza, senta-te como uma princípe. Sai antes do tempo, para que nunca se cansem de ti. Volta quando não te esperam, fica apenas quando te pedem. Fica atento aos sinais, nunca baixes a guarda. Pede conselhos aos velhos, mas não faças o que eles dizem. Fala baixo, mesmo quando é contigo e ninguém te pode ouvir. Fala com o teu coração, mas não esperes que ele te diga o que queres ouvir.
Quando não souberes que caminho deves seguir, olha para dentro de ti, a vida é tua e tens sempre resposta para tudo. A vida ensina-nos, aprendemos sempre com a nossa, e não com a de mais ninguém. Nós os diferentes e especiais, continuaremos caminhando, uns dias doendo outros cantando, mas tentando ser, as vezes conseguindo ser, sendo muito mais.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

DE CORAÇÃO PARA CORAÇÃO

O que separa corações não é a distância, é a indiferença. Há pessoas juntas estando separadas por milhares de quilómetros e outras separadas que vivem lado-a-lado. Muitas vezes importamo- nos com o que acontece no mundo, sensibilizamo-nos e pensamos até em fazer alguma coisa, mas esquecemo-nos do que se passa ao nosso lado, na nossa casa, na nossa família e mesmo na vizinhança. Colocamos, sem querer, barreiras entre os corações que nos cercam. A indiferença mata lentamente, anula qualquer sentimento; e assim criamos distâncias quando estamos tão próximos. As pessoas habituam-se tanto àquelas que convivem com elas que elas passam a não notá-las mais, a não dar mais importância. Mas, se quisermos transformar o mundo, comecemos por transformar a nós mesmos. Se quisermos entrar em combates para melhorar algo para o futuro, que esse combate comece dentro da nossa própria casa. Precisamos olhar os que estão ao nosso lado sempre com olhos novos. Comunicar mais, destruir mais barreiras e construir mais pontes. Precisamos nos dar de coração a coração. A melhor maneira de acabar com a indiferença de uma pessoa em relação a nós é amá-la. O amor transforma tudo. Não permitas que pessoas ao teu lado morram de solidão! Não permitas que elas se sintam melhor fora de casa que dentro dela! Dá atenção, dá parte de teu próprio tempo! Comunica! Vê menos televisão e conversa mais. Riam juntos. Há quanto tempo não dizes para a pessoa que vive ao teu lado que gostas dela? A gente não recupera tempo perdido. Mas podemos decidir não perder mais. Vamos amar os corações que nos cercam e tentar alcançar novamente aqueles que se distanciaram. Há sempre tempo para se amar.

E se não houvesse, o próprio amor seria capaz de inventar.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

COM O CORAÇÃO

Hoje eu não quero conversas programadas. Diálogos impecavelmente arrumados que não deixam o coração à mostra. As palavras podem sair de casa sem maquilhagem. Podem surgir com os cabelos desalinhados, livres de roupas que as apertem, como se tivessem acabado de acordar. Dispensa-se tons académicos, defesas de tese, regras para impressionar o interlocutor. O único requinte deve ser o sentimento. É desnecessário tentar entender qualquer coisa. Tentar solucionar qualquer problema. Buscar salvamento para o quer que seja.

Hoje eu não quero falar sobre o quanto o mundo está doente. Sobre como está difícil a gente viver. Sobre as milhares de coisas que causam cancro. Sobre as previsões de catástrofes que vão dizimar a humanidade. Sobre o quanto o ser humano pode ser também perverso, corrupto, tirano e outras feiuras. Sobre os detalhes das acções violentas noticiadas nos jornais. Não quero o blablablá encharcado de negatividade que grande parte das vezes não faz outra coisa além de nos encher de mais medo. Não quero falar sobre a hipocrisia que prevalece, sob vários disfarces, em tantos lugares. Hoje, não. Hoje, não dá. Não me interessam o disse-que-disse, os julgamentos, a investigação psicológica da vida alheia, as opiniões sobre as motivações que fazem as pessoas agirem assim ou assado, o dedo na ferida.

Hoje eu não quero aquelas conversas contraídas pelo receio de não se ter assunto. A aflição de não se saber o que fazer se ele, de repente, acabar. O esforço de se falar qualquer coisa para que a nossa quietude não seja interpretada como indiferença. Hoje eu não quero aquelas conversas que muitas vezes acontecem somente para preenchermos o tempo. Para tentarmos calar a boca do silêncio. Para fugirmos da ameaça de entrar em contacto com um monte de coisas que o nosso coração tem pra dizer. Além do necessário, hoje não quero falar só por falar nem ouvir só por ouvir. Que a fala e a escuta possam ser um encontro. Um passeio que se faz junto. Um tempo em que uma vida se mostra para a outra, com total relaxamento, sem se preocupar se aquilo que é mostrado agrada ou não. Se aumenta ou diminui os índices de audiência.

Hoje, se quiseres, se puderes, se souberes, fala.me de ti. Fala-me dos teus amores, tanto faz se estão perto do teu corpo ou somente no teu coração. Fala-me sobre as coisas que te costumam fazer sintonizar a frequência do teu sorriso mais bonito. Fala-me sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam. Fala-me do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em ti que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta-me sobre as receitas que te dão água na boca. Sobre o que gostas de fazer para te divertires. Conta-me se rezas antes de adormecer.

Hoje, fala-me de ti. Dos momentos em que a vida te doeu tanto que achaste que não irias aguentar. Fala-me das músicas que compõem a tua banda sonora. Dos poemas que poderias ter escrito, de tanto que traduzem a tua alma. Senta-te perto de mim e mesmo que estejamos rodeados por buzinas, gente apressada, perigos iminentes, faz de conta que a gente está conversando no quintal de casa, descascando uma laranja, os pés descalços, sem nenhum compromisso chato à nossa espera. A gente já brincou tanto de faz-de-conta quando era criança, onde foi que a gente esqueceu como se chega a esse lugar de inocência? Fala-me da lua que admiraste uma noite destas, no céu. Da borboleta que te chamou à atenção por tanta beleza, abraçada a alguma flor, como se existisse apenas aquele abraço. Diz-me se quando acordas ainda ouves passarinhos, mesmo que não possas identificar de onde vem o canto. Diz-me se a tua mãe ou o teu pai cantavam para te fazer dormir.

Senta-te perto e conta-me o que sentiste quando viste o mar pela primeira vez e o que sentes quando olhas para ele, tantas vezes depois. Se tinha jardim na casa da tua infância, diz-me que flores haviam por lá. Conta-me há quanto tempo não vês uma joaninha. Se tinhas algum apelido na escola. Se consegues imaginar-te bem velhinho. Fala-me da tua família, a de origem ou a que se formou. Das pessoas que não têm o teu sobrenome, mas são familiares para a tua alma. Fala-me de quem passou pela tua vida e nem sabe o quanto foi importante. Daqueles que sabem e tu nem consegues dizer o tamanho que têm de verdade. Fala-me daquele animal de estimação que se deitava junto aos teus pés, solidário, quando estavas triste. Diz o que vai ser bom encontrar quando, bem lá na frente, olhares para o caminho que fizeste no mundo, em retrospectiva.
Podemos deitar conversa fora, desde que seja temperada com riso, esse tempero que faz tanto bem. A gente pode rir dos tombos que deste na rua e daqueles que levaste na vida, dos quais a gente somente consegue rir muito tempo depois, quando consegue. A gente pode rir das tuas maluquices românticas. Das maiores encrencas que já arranjaste. Das ciladas que armaram para ti e, antes de entenderes que eram ciladas, chegaste até a agradecer por elas. De quando descobriste como são feitos os bebés. A gente pode rir das mentiras que contaste e acreditaram com facilidade. Das verdades que disseste e ninguém levou a sério.
Não é preciso ter pauta, seguir roteiro, deixemos a conversa acontecer de improviso, uma lembrança puxando a outra pela mão, mas conta-me e deixa-me contar-te de mim. Dessas coisas. De outras parecidas. Ouve também com os olhos. Escuta o que eu digo quando nem digo nada: a boca é o que menos fala no corpo. Não antecipes as minhas palavras. Não te impacientes com o meu tempo de dizer. Não me perguntes coisas que vão fazer a minha mão se mexer toda para responder. Uma conversa sem vaidade, ninguém quer saber qual história é a mais feliz ou a mais desditosa.

Hoje eu quero conversar com um amigo para falar também sobre as coisas boas da vida. As miudezas dela. A grandeza dela. A roda-gigante que ela é, mesmo quando a gente vive como se estivesse convencido de que ela é um trem-fantasma o tempo inteiro. Um amigo para falar de coisas sensíveis. Do quanto o ser humano pode ser também bondoso, honesto, afectuoso, divertido e outras belezas. Dos lugares onde nossos olhos já pousaram e daqueles onde pousam agora. Um amigo para conversar horas adentro, com leveza, de coisas muito simples, como a gente já fez várias vezes e parece ter desaprendido como se faz. Um amigo para se conversar com o coração.
E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta-te ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem uma vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta-te apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o teu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.

quinta-feira, dezembro 02, 2010

NÃO ME INTERESSA SABER ...

Não me interessa saber o que fazes para ganhar a vida. Quero saber o que desejas ardentemente, se ousas sonhar em atender aquilo pelo qual o teu coração anseia.
Não me interessa saber a tua idade. Quero saber se arriscarás a parecer um tolo por amor, por sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a tua lua. Quero saber se tocaste o âmago da tua dor, se as traições da vida te abriram ou se te tornaste murcho e fechado por medo de mais dor!
Quero saber se podes suportar a dor, minha ou tua, sem procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotiza-la. Quero saber se podes aceitar alegria, minha ou tua, se podes dançar com abandono e deixar que o êxtase te domine até as pontas dos dedos das mãos e dos pés, sem nos dizer para termos cautela, sermos realistas, ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos.
Não me interessa se a história que me contas é a verdade. Quero saber se consegues desapontar outra pessoa para ser autêntico contigo mesmo, se podes suportar a acusação de traição e não trair a tua alma.
Quero saber se podes ver beleza mesmo que ela não seja bonita todos os dias. Quero saber se podes viver com o fracasso, teu e meu, à margem de um lago, gritar para a lua prateada: “Posso”!
Não me interessa onde moras ou quanto dinheiro tens. Quero saber se podes levantar-te após uma noite de sofrimento e desespero, cansado, ferido até os ossos, e fazer o que tem de ser feito pelos filhos.Não me interessa saber quem és e como vieste parar aqui. Quero saber se ficarás comigo no centro do incêndio e não te acovardarás.
Não me interessa saber onde, o quê, ou com quem estudaste... Quero saber o que te sustenta a partir de dentro, quando tudo mais desmorona...
Quero saber se consegues ficar sozinho contigo mesmo...